Os limites da crítica como definição diante do pluralismo e do multiculturalismo da arte pós-histórica
Palavras-chave:
Danto, Crítica, Arte pós-histórica, Noël CarrollResumo
No prefácio de Unnatural wonders: essays from the gap between art and life, o pensador norte-americano Arthur Danto dedica-se a refletir sobre seu trabalho de crítico de arte e a demonstrar como essa atividade deve ser pensada em um contexto pós-histórico da arte. Para o pensador estadunidense, a arte pós-histórica representa um momento de pluralismo radical e de multiculturalismo, o que não significa necessariamente o fim da crítica de arte, mas o momento em que tal atividade liberta o artista do fardo da história da arte e, ao mesmo tempo, restringe o seu fazer tão só a uma espécie de mediação explicativa do trabalho do artista para o espectador. Para Danto, se o contexto pós-histórico determina que nada possa ser descartado como arte, o crítico também não pode descartar nada como arte, de tal maneira que o artista encontra-se dotado de plena liberdade criadora. Ademais, observamos no mesmo prefácio que, à leitura do filósofo nova-iorquino, o tema da crítica não constitui um problema filosófico de sua teoria, uma vez que, para o pensador, à arte pós-histórica não se seguiria um modelo crítico pós-histórico e, por sua vez, o filósofo afirma concordar com a tese hegeliana de que o dever da crítica seja tão somente o de analisar se a incorporação de sentido no objeto proposto como obra de arte foi bem realizada, o que demonstra que os conceitos de crítica de arte e de definição de arte, no pensamento dantiano, conjugam-se. Em princípio, tal concepção nos aponta um caráter inclusivo, já que representa uma condição na qual tudo pode ser proposto como arte, independentemente do estilo, da origem cultural ou de fatores qualitativos da obra. Por outro lado, entretanto, essa apreensão dantiana da crítica acaba por encerrar alguns dilemas, notadamente em razão de sua crítica restringir-se apenas ao trabalho realizado e à adequação entre objeto e sentido corporificado, conseguintemente, ignorando elementos que seriam bastante representativos para a sua própria filosofia da arte, quais sejam, de tornar compreensível em que medida o multiculturalismo e o pluralismo, afirmados por Danto como condição da arte pós-histórica, não acabam subsumidos pelo mercado de arte, substituindo as narrativas mestras não por uma pretensa liberdade criadora, mas por tendências do mercado de arte; e, por fim, em que medida essa condição, somada ao limite do crítico ao papel de mediador, não condicionaria de outro modo a concepção de mundo da arte de Arthur Danto a uma Teoria Institucional da Arte? Problematizar essas questões em relação à tese
de Noël Carroll acerca de uma segunda definição de arte no pensamento dantiano constitui o objetivo desta discussão.
Downloads
Referências
ADORNO, Theodor. O fetichismo na música e a regressão da audição. Trad. Luiz João Baraúna. In: ADORNO, Theodor. Textos escolhidos. Trad. Andréa Maria Altino de Campos et al. São Paulo: Abril Cultural, 1996, p. 65-108. (Os pensadores)
CARROLL, Noël. On criticism. Nova Iorque: Routledge, 2009.
CARROLL, Noël. Danto’s new definition of art and the problem of art theories. The British journal of aesthetics, Londres, v. 37, n. 4, p. 386-91, out. 1997. https://doi.org/10.1093/bjaesthetics/37.4.386.
CARROLL, Noël. Arte, definição e identificação. In: CARROLL, Noël. Filosofia da arte. Trad. Rita Canas Mendes. Lisboa: Synopsis, 1999, p. 231-94.
DANTO, Arthur. After the end of art: contemporary art and the pale of history. Princeton: Princeton University Press, 1997.
DANTO, Arthur. Beyond the Brillo Box: the visual arts in post-historical perspective. Berkeley: University of California Press, 1992.
DANTO, Arthur. From aesthetics to art criticism and back. The journal of aesthetics and art criticism, Malden, v. 54, n. 2, p. 105-15, primavera 1996. https://doi.org/10.2307/431083.
DANTO, Arthur. From philosophy to art criticism. American Art, Nova Iorque, v. 16, n. 1, p. 14-7, primavera 2002. https://doi.org/10.1086/444655.
DANTO, Arthur. On criticism. Nova Iorque: Routledge, 2009.
DANTO, Arthur. The artworld. The journal of philosophy, Nova Iorque, v. 61, n. 19, p. 571-84, out. 1964. https://doi.org/10.2307/2022937.
DANTO, Arthur. The end of art: a philosophical defense. History and theory, v. 37, n. 4, p. 127-43, dez. 1998b. https://doi.org/10.1111/0018-2656.721998072.
DANTO, Arthur. The madonna of the future: essays in a pluralistic art world. Berkeley: University of California Press, 2000.
DANTO, Arthur. The philosophical disenfranchisement of art. Nova Iorque: Columbia University Press, 2004.
DANTO, Arthur. The transfiguration of the commonplace: a philosophy of art. Cambridge: Harvard University Press, 1981.
DANTO, Arthur. Unnatural wonders: essays from the gap between art and life. Nova Iorque: Columbia University Press, 2005.
DUARTE, Rodrigo. A plausibilidade da pós-história no sentido estético. Trans/Form/Ação, Marília, v. 34, n. 2, p.155-80, 2011.
FERREIRA, Débora Pazetto. Considerações sobre a situação atual da arte no mundo da arte. In: DUARTE, Rodrigo et al. (Org.). Gosto, interpretação e crítica. Vol. 2. Belo Horizonte: ABRE, 2015.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2017 Charliston Pablo do Nascimento

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International License.