v. 10 n. 1 (2019)

Esta revista, lançada em 2010, chega, com esta edição, ao seu décimo volume. Desde o seu lançamento até o momento atual, a Inquietude publicou textos de mais de 110 autores e recebeu mais de 49 mil acessos em seu site. Tais dados são uma dose de alívio em meio à onda anti-intelectualista que estamos vivenciando. A arte que compõe a capa desta edição é o Campo de trigo verde com ciprestes, de Van Gogh. Assim como o fascínio de Van Gogh por ciprestes sempre o inspirou, a filosofia também nos inspira; afinal, mais do que necessária, ela é inevitável. Além disso, a sensação de movimento provocada pela obra de Van Gogh pode servir de metáfora para as inquietações que a filosofia nos provoca.
O novo volume inicia-se com um artigo intitulado David Hume e a concepção de razão em uma perspectiva naturalista: Uma análise de Edward Craig a partir da Tese da Semelhança, em que Claudiney José de Sousa argumenta que a postura naturalista adotada por Hume seria uma maneira de o filósofo se contrapor à Tese da Semelhança. De acordo com Sousa, o posicionamento de Hume o conduz à concepção distinta a respeito da razão e torna o tema da crença algo prioritário em sua filosofia.
Em seguida, em O olhar de Sêneca sobre o debate contemporâneo entre as éticas do dever e da virtude, George Felipe Bernardes Barbosa Borges argumenta que Sêneca contribui tanto para as éticas do dever quanto para as éticas da virtude. O autor nos apresenta conceitos encontrados na obra de Sêneca que se encaixam nas duas formas de ética. Mais do que isso, para Borges, tais conceitos não são excludentes na obra do filósofo estoico e, portanto, poder-se-ia conciliar dever e virtude compreendendo-os como complementares.
No próximo artigo, A ambiguidade de Nietzsche para com Sócrates, Laura Elizia Haubert nos propõe uma análise mais acurada sobre a visão de Nietzsche em relação a Sócrates. A autora mostra que as críticas nietzschianas a Sócrates, na verdade, se referem a um socratismo e não ao próprio filósofo grego. Assim, conforme as análises de Haubert, na obra de Nietzsche a personagem de Sócrates opera como uma espécie de máscara que representa aquilo que o filósofo germânico estaria de fato a criticar.
Em Adorno e Kafka: Estética da negatividade, Marina Coelho Santos mostra a ligação existente entre a indústria cultural e a estética negativa; a primeira pode ser compreendida como uma identidade da cultura de massas e a segunda como uma “desidentificação”. Santos argumenta que ambas, a cultura de massas e a estética da negatividade, são relacionadas através da arte moderna. No artigo, a autora mostra, a partir das obras de Adorno, que a estética negativa é presente na obra de Kafka.
Finalizando o volume, apresentamos o texto O estoicismo e a brevidade da vida, em que Nadir Antonio Pichler, Milena Paula Zancanaro e Talia Castilhos de Oliveira analisam os escritos de Sêneca sobre o tema da brevidade da vida. O autor e as autoras argumentam que o modo de vida proposto por Sêneca é contrário ao modelo de vida atual. Para eles, Sêneca ensina em sentido oposto ao modo de vida no qual a maioria das pessoas vivem ansiando pelo futuro, que somente ócio filosófico é capaz de revelar o sentido da brevidade da vida.
Aproveitamos para dar boas-vindas aos novos membros da revista: Aline Stéphanie Freitas, Anderson Carvalho dos Santos, Arthur Brito Neves, Eduardo Emanuel Ferreira Leal, Brenner Bruneto Oliveira Silveira, Gabriel Caetano de Queiroz, George Felipe Bernardes Barbosa Borges, João Pedro Andrade de Campos, Marina Lacerda Machado, Mariana Andrade Santos, Sabrina Paradizzo Senna e Sabrina Thays.
Para encerrar este editorial, citamos um trecho do poema O livro e a América de Castro Alves: “Por isso na impaciência / Desta sede de saber, / Como as aves do deserto — / As almas buscam beber... / Oh! Bendito o que semeia / Livros... livros à mão cheia... / E manda o povo pensar! / O livro caindo n’alma / É germe — que faz a palma, / É chuva — que faz o mar”.
Esperamos que apreciem a leitura deste volume!
Aline Stéphanie Freitas dos Reis
Rafael Arcanjo Teixeira