Vol. 4 Núm. 2 (2013)

As primeiras palavras não são, necessariamente, as mais importantes. Ainda assim, cabe a elas ditarem a continuidade e o ritmo da leitura. Aqui temos o privilégio de convidá-los à leitura de mais este número da revista Inquietude, fruto de uma seriedade inerente ao universo da pesquisa acadêmica aliada à efervescência de jovens pesquisadoras/es na área da filosofia. Compromisso que gera, naturalmente, resultados os mais satisfatórios. Lembramos que, recentemente, obtivemos a qualificação Qualis B5 - o que dá mais importância e notoriedade à revista - isto fomenta o interesse com o qual nos procuram estudantes de filosofia de várias partes do país.
Nessa edição contamos com oito artigos, uma seção dedicada à Semana de Filosofia, duas entrevistas [respectivamente por Willian Bento Barbosa e Nádia Junqueira Ribeiro] com importante pesquisador/a em Hannah Arendt – Adriano Correia e Yara Frateschi – além da parte destinada à divulgação dos resumos de monografias e dissertações de discentes que concluíram o bacharelado e o mestrado em filosofia na UFG. Na capa temos uma criação de Andréia Ferreira - graduada em filosofia - representando o disforme. Uma contradição a princípio, pois os textos devem se enquadrar em uma série de exigências formais para sua submissão e consequente veiculação. Contudo, não há formalidade que impeça que o disforme surja como uma inquietação no próprio conteúdo daquilo que é escrito. Não raras vezes, disforme é o que encontramos como pensamento filosófico, se comparado ao mundo que nos cerca. Mas que outra opção teríamos a partir de um contexto tomado pela passividade em que o perverso do real estranha menos que uma deformidade do pensamento?
No artigo inicial A gênese antropológica da religião em Ludwig Feuerbach [de Felipe Assunção Martins] temos uma reconstrução teórica da origem humana de Deus, bem como uma crítica acerca da alienação religiosa. O artigo nos ajuda a pensar em como a verdade antropológica de Deus e da religião, segundo Feuerbach, tem como princípio uma teoria da consciência e essência humanas. O filósofo compreende o homem enquanto ser consciente de seu gênero.
Em A relação entre sentimentos e o estudo da moral [de Ana Gabriela Colantoni] o/a leitor/a vai se deparar com diferentes perspectivas filosóficas acerca da noção de prazer, e como as ações que proporcionam o prazer se relacionam com as questões morais nas obras de Aristóteles, Kant e Mill. Em seguida, a contribuição dos filósofos alemães Hegel e Nietzsche para a instauração de um ethos cristão, e as características que conduzem a filosofia hegeliana a uma filosofia de plenitude, é o tema do nosso próximo artigo [de Adilson Felicio Feiler], intitulado O ethos cristão em Hegel e Nietzsche a partir dos conceitos de “destino” e “amor”.
Já em Das artes de governo de espírito cativo: Pontos de encontro entre Nietzsche e Foucault [de Walquiria Pereira Batista] temos um estudo que aponta uma possível aproximação dos pensamentos de Friedrich Nietzsche e Michel Foucault quanto à constituição do Estado moderno e de um novo sujeito. Enquanto Foucault analisa o surgimento das artes de governo tendo como viés a construção da subjetividade moderna, Nietzsche pensa o conceito de espírito cativo em que o indivíduo, em busca de uma suposta paz, seria forjado pela modernidade.
Embora a ontologia de Paul Ricouer mantenha o agir humano como centro, existe uma tentativa de se manter plural, no que diz respeito aos mais diversos modos de dizer o si. O caráter especulativo de sua ontologia, bem como o direcionamento de entendimento da manutenção de si a partir da relação com a alteridade está presente no artigo A ontologia do agir de Paul Ricoeur: Alteridade e pluralidade [de Sabrina Ruggeri]. Já o artigo Uma fenomenologia da existência: Sobre A dúvida de Cézanne de Maurice Merleau-Ponty [por Luana Lopes Xavier] tem por objetivo analisar a proposta da pintura de Cézanne, bem como a relação existência-arte presente em sua obra à luz do pensamento de Merleau-Ponty.
O momento histórico de revitalização do pragmatismo americano e as decorrências desse movimento acrescido do instrumental linguístico da filosofia pós-analítica é tratado em A revitalização do pragmatismo americano na década de 1970: A virada pragmático-linguística de Richard Rorty [por Flávio Oliveira]. E, por fim, temos o último artigo dessa seção intitulado Sobre a perenidade da exceção: O caso do estado de Goiás [por Pedro Penhavel]. No presente artigo o autor se apropria de conceitos da filosofia política de Walter Benjamin e Giorgio Agamben e da análise de sociólogos como Francisco de Oliveira e Loïc Wacquant para tratar a questão da supressão de direitos fundamentais e a escalada da violência policial em Goiás durante o período pós-ditadura militar.
No espaço destinado à Semana de Filosofia temos o artigo Arte e política no pensamento de Jean-François Lyotard [de Rafael Silva Gargano]. No presente texto, o/a leitor/a da Inquietude será levado/a a compreender as raízes das discussões estéticas presente na filosofia de Lyotard, bem como seu desconforto pertinente à teoria marxista de sua época. Tal desconforto, diga-se, é fundamental para a compreensão da relação que o filósofo estabelece entre arte e política, evidenciadas no ensaio Notas sobre a função crítica da obra de arte, publicado em 1970. Em A teoria da vontade de poder enquanto caráter da existência [por Eder David de Freitas Melo] podemos observar que, na concepção nietzschiana que trata do mundo, e tudo o que nele há, é tão somente vontade de poder. Dentro desta perspectiva, o artigo nos traz uma análise de alguns aspectos desta teoria da vontade de poder, contribuindo, assim, para compreendermos como o filósofo alemão - Friedrich Nietzsche - se utiliza de um mesmo arranjo conceitual para qualificar toda a existência.
Esperamos que a leitura até agora tenha motivado nossas/os leitoras/es para que prossigam através dos textos aqui veiculados. Ainda aproveitamos para agradecer a todas as pessoas que nos submeteram textos para avaliação. A quem não teve o texto publicado, pedimos para que considerem o retorno dado através dos pareceres, para que possam, em momento oportuno, enviar-nos novamente para possível veiculação. A todas/os as/os professoras/es da Faculdade de Filosofia e do Curso de Filosofia do Campus de Goiás o nosso agradecimento pelo incentivo e por toda colaboração a nós destinada. Às/os professoras/es que se ocuparam de nos fornecer pareceres externos, queremos salientar que este número não seria possível sem o rigoroso trabalho que envolve a realização de seus pareceres. À equipe editorial – acrescida agora pelos discentes Eder David de Freitas, Regis Lopes e Samarone Oliveira – pelo constante envolvimento e dedicação.
Não poderíamos deixar de nos dirigir ao Grupo de Estudos em Biopolítica da Faculdade de Filosofia da UFG que nos concede espaço para o lançamento desta edição no IV Colóquio de Biopolítica e, mais que isto, tem colaborado para promover nossa revista incentivando a publicação de textos apresentados nos colóquios realizados pelo Grupo, como é o caso do Dossiê Biopolítica publicado na edição (v. 3, n. 2) de 2012. Reforçamos, ainda, o convite para a submissão dos trabalhos apresentados neste colóquio para avaliação e publicação no próximo número, a ser lançado em julho de 2014.
Reportando-nos novamente ao belíssimo trabalho que aparece como capa desta edição, esperamos que a expectativa da inquietação possa nos impulsionar como aqueles que não se formalizando de imediato com um mundo que nos é dado, anunciam o disforme contido nos questionamentos que ora nos incomodam.
E, por fim, um agradecimento, insuficiente, a uma pessoa muito especial, um artista, um criador não só de significativas e inquietantes belezas artísticas: Pedro Labaig. Mesmo depois de ter concluído o curso de Filosofia na UFG, ele continuou sendo o responsável pelo árduo trabalho de cuidar da arte final e da diagramação da Inquietude. À distância, em Paris, em meio à pintura de seus belos quadros e do seu mestrado em Filosofia, ele se manteve entre nós com seu modo colaborador, participante, responsável, um gentleman, como sempre se mostrou. Como parte muito pequena do nosso agradecimento, tentaremos agora andarmos com nossas próprias pernas, para desencarregar o Pedro de mais esta tarefa. Contudo, por sua grandeza, ele já se fixou na memória da nossa revista.
A Edição