Vol. 8 No 1 (2017)

É com grande alegria que anunciamos mais um volume da revista Inquietude: volume 8, número 1, fruto de muita dedicação e esforço. A imagem do mural produzido por Keith Haring compõe a capa deste número.
A filosofia é repleta de exemplos para pensarmos de que forma o conhecimento se faz: se por consensos ou conflitos. Teria Aristóteles alcançado seu profundo pensamento ético caso não houvesse estudado a ética platônica e percebido que com ela concordava em alguns aspectos e não em outros? Kant afirma que todos os pensadores da filosofia constroem seus edifícios do conhecimento sobre as ruínas de outras filosofias. Acreditamos que inquietar-se com o pensamento de outros autores seja um impulso para o conhecimento.
É neste movimento, entre conflitos e consensos, que apresentamos esta edição composta por quatro artigos e duas resenhas, além de uma seção de resumos de dissertações de mestrado, resumos de monografias e relatórios de iniciação científica.
No texto de abertura, intitulado Teoria do erro, o problema da objetividade moral e fenomenologia do valor, o autor Emerson Martins Soares faz uso da obra Ethics: inventing right and wrong, de J. L. Mackie, para discutir o desenvolvimento da Teoria do Erro, enfatizando suas principais características. Conforme dito acima, não só de consensos vive a filosofia, logo, o texto em questão busca tecer críticas à teoria de Mackie, colocando em cheque o êxito de sua teoria. Para Mackie, não existiriam valores morais objetivos. É usando o próprio desenvolvimento de Mackie que o autor identificará suas falhas.
Em seguida, apresentamos o artigo O conceito de opinião pública em Rousseau: Da corrupção do indivíduo à transparência do corpo político, de Rosângela Almeida Chaves. Neste, a autora busca revelar a evolução que o conceito de opinião pública sofre nas obras do genebrino. Primeiro, como um elemento negativo: fator de corrupção do povo; em outros momentos, como um controle social: estabilizaria os costumes e faria com que todos os seguissem.
O próximo artigo, Explicando e justificando ações: Sobre uma suposta “antinomia do agir”, de Darley Alves Fernandes. O texto aborda um aspecto a que Kant não deu ênfase, qual seja, a distinção entre “causa determinante” e “razão determinante”. A justificação de uma ação a partir de sua causa não se sustenta: a causa só nos faz entender e explicar a ação, mas não a justifica. Além disso, ambas não teriam um caráter excludente, mas sim complementar.
Nosso quarto artigo, intitulado O governo infinito dos homens: Escatologia e resistência em Foucault e Agamben, de Pedro Lucas Dulci, objetiva inquirir a articulação embrionária de alguns conceitos no interior do pensamento foucaultiano, os quais, mais tarde, serão usados por Agamben como genealogia teológica de economia e de governo. Foucault parte de um questionamento referente a pretensões políticas infinitas e indica formas escatológicas de contraconduta. Agamben faz uso dessas noções para desenvolver seu pensamento em relação àquelas sobre o tempo messiânico.
A seção de resenhas apresenta, em sua abertura, um texto elaborado por Fernando Cardoso Bertoldo, A educação ética como via da cidadania cosmopolita em Kant, o qual se constrói a partir do texto Sobre a pedagogia, de Immanuel Kant, em sua 2ª edição, de 1999. O objetivo desta resenha é explicitar por que e como, para Kant, a educação ética é o meio pelo qual a cidadania cosmopolita poderia ser alcançada. Bertoldo, para isso, busca dar algumas respostas para questões que concernem à concepção de ser humano e à possibilidade de uma formação moral e, além disso, o autor da resenha avalia se a obra identifica quais as condições necessárias para um ser humano pensar por si mesmo e quais as exigências necessárias para que se alcance uma cidadania cosmopolita.
A segunda resenha desta edição foi escrita por Miroslav Milovic, sobre o livro El ocaso de occidente [A crise do ocidente], do espanhol Luis Sáez Rueda. Rueda busca inspiração em Husserl, mas não trata dos mesmos temas, olha para a nossa realidade atual e a percebe como pobre em relação ao poder de autocriação: não somos mais uma sociedade que cria, somos uma sociedade de consumo. Dessa forma, Rueda pensa em formas de recriação da fonte produtiva. Além disso, salienta suas diferenças com o pensamento de Habermas, deixando claro que uma específica dimensão material da cultura estaria sendo perdida. Sua inspiração viria de Deleuze e de seus pressupostos rizomáticos, neste caso, a riqueza dos rizomas energéticos em contraposição às forças capitalistas e à cultura identitária que nos dominam.
Manifestamos nossa gratidão aos membros do Conselho Editorial da Inquietude, aos autores que confiaram na revista para a submissão e publicação de seus textos e, especialmente, aos pareceristas que compuseram a comissão de avaliação dos artigos aqui publicados. Ratificamos que o espaço da Inquietude busca a promoção de um diálogo filosófico, por isso deixamos aberto o convite para aqueles que objetivam, no futuro, enviar-nos seus textos. Agradecemos também o apoio e o incentivo da Faculdade de Filosofia às atividades da revista.
Por fim, gostaríamos de aproveitar para desejar boas vindas aos novos membros da Inquietude, aos editores: Aline Matos da Rocha, Eduarda Santos Silva, Fernando Batista Safadi, Joézer Carvalho de Castro, Kellen Aparecida Nascimento Ribeiro e Paulo Fernando Rocha Antunes, e também aos novos revisores: Davi Maranhão De Conti e Paola Nunes de Souza.
Adriane Campos de Assis Remigio