Vol. 7 No 2 (2016): Dossiê "Estética"

Os artigos que compõem o Dossiê de Estética nessa edição da Inquietude provêm do I Colóquio Internacional de Estética da FAFil/UFG, cujo tema “Confluindo Tradições Estéticas” teve por objetivo reunir diferentes tendências do pensamento filosófico e estético.
A apresentação de comunicações alcançou temas e autores de variados períodos da história da filosofia: de Platão a H. P. Lovecraft, Kant, o Romantismo Alemão, Hegel, Nietzsche, Edith Stein, Merleau-Ponty, Heidegger, Bataille, Marx, Benjamin, Danto e teorias estéticas feministas. A discussão fomentada nas mesas e conferências formou um interesse comum e diverso, de maneira a apresentar a Estética e a Filosofia da Arte como uma espécie de cornucópia que, ao mesmo tempo afunila e expande − com abundância − o saber filosófico.
Raramente vemos filósofos deixarem de se imiscuir na área da Estética, a qual, em determinados momentos da história da filosofia, manteve relevância equiparada à da própria filosofia. Desta, por vezes, distanciada, quando se tem em vista apenas uma relação notoriamente universal e objetiva com o saber, a Estética passou a servir de base e consulta a todo conhecimento que pensasse a forma e sua recepção, em termos psicológicos e artísticos, ganhando contornos de interdisciplinaridade. Nunca abandonou, contudo, seu caráter original que a tornava veículo de relação entre epistemologia e ética, entre saber e agir moralmente, entre reflexão e ação política, entre crítica e arte, entre ser e aparecer. Os artigos publicados neste Dossiê possuem o mérito de refletir algumas dessas dimensões.
No artigo de Fernando Ferreira da Silva, o leitor encontra a relação entre juízo estético e crítica de arte, utilizando como referência o conceito de “ironia romântica” como um procedimento marcado pela proximidade entre filosofia e poesia (ou literatura), cuja tarefa é destruidora e crítica da forma artística tradicional. O viés desta interpretação se encontra na dissertação de Walter Benjamin a respeito do conceito de crítica de arte no romantismo alemão.
Em Os limites da crítica como definição diante do pluralismo e do multiculturalismo da arte pós-histórica, Charliston Pablo do Nascimento explora os limites da crítica de arte na atividade libertadora dos condicionantes do fazer artístico tradicional. A teoria de Arthur Danto sobre o papel mediador da crítica de arte num momento histórico em que “tudo pode ser arte”, sem padrões pré-determinados, é problematizada pelo autor que lhe opõe a tese do filósofo analítico Noël Carrol a respeito de outra possível definição de crítica de arte na teoria de Danto, tendo em vista impasses sobre a relação entre arte e mercado.
Sobre mercado, moda e cultura, trata o artigo de Rodrigo Araújo, cuja fundamentação requer o conhecimento de alguns conceitos herdados de Marx por Walter Benjamin, entre os quais o de fetiche da mercadoria e o de fantasmagoria. A fim de reconstruir a base dessa discussão, o autor recorre à teoria da modernidade de Benjamin, marcada pela poesia e teoria de Baudelaire e a cidade de Paris.
Retrocedemos ao artigo de Eder David de Freitas Melo [traduzido ao inglês por Caius Brandão] a fim de reconhecer a relação entre epistemologia e estética por meio da noção agonística de tragédia como foco central para a filosofia. Nietzsche e as noções extremas de hybris e prudência norteiam a análise do autor que pressupõe uma relação intrínseca entre o sentido do trágico, a vontade de poder e a busca pela verdade na filosofia.
Por fim, a tradução sobre Gaston Bachelard [feita por Gabriel Kafure da Rocha] encerra a abundância de temas e relações explorados nos artigos ora publicados, bem como a discussão que lhes antecedeu e que circunscreveu a fala dos participantes do evento de Estética, os quais, por diferentes motivos não estiveram aptos a enviar suas contribuições para a revista.
Certa de que novas discussões serão despertadas pela leitura do presente Dossiê, recomendo ao leitor ânimo e disposição equivalente para a leitura de suas fontes, já norteados pela interpretação dos autores dos artigos publicados e de uma infinita literatura sobre os textos de referência, que permanecerão, ao mesmo tempo, densos e permeáveis ao pensamento.
Carla Milani Damião
Professora da Faculdade de Filosofia da UFG