v. 15 n. 1 (2024)

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Inquietude,

 

Se começarmos a apresentar o número pela imagem, há muito da diversidade dos trabalhos que se fortifica no Prismático do artista. Não a reflexão, mas a transformação refratária em cores de um monótono feixe de luz, pode impressionar a dúvida imbricada numa ideia – na educação, na memória, na (des)informação, no “áspero” do ensino, na tradição...

Assim sendo, a polir a dúvida no sacrilégio do vilipêndio de um cânone contemporâneo, Felipe Luiz convida à leitura foucaultiana de um Foucault que, atravessando o prisma de Certa recepção brasileira d[e sua] obra, mostra-se mais diverso e colorido que talvez apenas um feixe de seu séquito assuma válido. Na realidade, problemas centrais – de ordem política e epistêmica – parecem insurgir quando se ignora ou busca negar, ocultar, aí sim, vilipendiar a temeridade de um autor ante contradições, suas próprias...

Quanto à episteme ou, antes, o processo formativo que ela implica ou com o qual implica, Fernando Bonadia de Oliveira demonstra, com a maestria de um professor de filosofia, o “aspr’o” da sala de aula, como se fosse um sertão, cuja espinheira da Contribuição espinosana para o ensino de filosofia deixa entrever em suas veredas os “rasto” de afeto, de vida por que se formam um entendimento, uma filosofia... Prudente, porém, inquieto, não nos deixemos enganar pela ilusão do Diabo roseano na terra do sol! Rosa, mas também Espinosa têm a ensinar como a figura de um erro pode não passar de um “vespero” que nos afeta, modula nosso engenho que mói o caminho à frente, de uma (in)disciplina que necessita tempo em seu espaço, espaço no seu tempo...

De modo a abrir novos caminhos no ensino-aprendizado da filosofia prismática que propomos, João Batista Ferreira Filho nos batiza com sua inquietante análise dos “trieiros” fechados – nem mesmo descaminhos! – das bolhas digitais que inflamos, ao ponto que Fake news e agência epistêmica na política da desinformação tornam-se estratégia para minar, também enganar as mentes que não se conformam, mas que se desinformam e se deixam enformar pelo status quo, como se servissem de banquete, como o banquete mesmo de quem se deleita, e chafurda, na insalubre ecoante “opinião pública”. Uma das implicações que Ferreira Filho nos imprime é a de uma pretensa autonomia judicante do sujeito que, trágica ou comicamente, senão enquanto sátira de si mesmo, é levado a crer que sabe pela forma de sua fôrma...

Mas, bem, se tudo se resume à forma de um conjunto de memórias, experiências, abstrações... não caberia, minimamente, a dúvida como o contrapelo dessas bolhas cristalizadas em câmaras?

Ao menos essa pergunta nos faz crer necessária o trabalho aracniano de Luama Socio: o entrelaçamento de espaço-tempo na mente, em via da famigerada transumanidade, coloca-nos o desafio de lidar com novas compleições fisiopsicológicas que surgem na era das nuvens, da memória algorítmica, dos cristais de eco desinformado, aos quais escapa a filosofia que ainda duvida. Porém, com A memória n[esse] ponto de relação entre sujeito e forma, as relações parecem se dificultar no paradoxo apontado da autora, da necessidade de enrijecer a memória ante um fluxo informativo de todo refratário às tentativas de memorizar, quiçá as de relembrar uma história, a se reconfigurar a cada passo da aranha enclausurada in vitro, que busca se firmar em sua teia, à espreita de um ataque que a ajude a se alimentar, supondo consiga uma presa...

Não obstante, torna-se difícil perceber quem – ou o quê! – é afinal essa “aranha”. Contudo, não é como se não pudéssemos ver a refração multicolor dos Artigos na Resenha que nos apresenta Luan de Oliveira Vieira, da tecitura das várias formas de resistir à mera enformação do status quo, propostas na Educação e emancipação de Adorno. Aqui ganhamos novamente um vigor que nos impulsiona a romper a clausura totalitária, cujas paredes não podem ser o limite de uma vida que quer viver, não morrer sufocada, ou como vítima de um experimento baixo do controle total que, na verdade, está, ele mesmo, sujeito às crises e rupturas, quer as tenha planejado ou não...

 

Com o (des)prazer da dúvida,

 

A edição.

 

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CORPO EDITORIAL CIENTÍFICO (NOMINATA)

André Vinícius Dias Carneiro (UFG, Goiânia, GO, Brasil)

Carlos Wagner Benevides Gomes (UEC, Fortaleza, CE, Brasil)

Cristiane Maria Marinho (UECE, Fortaleza, CE, Brasil)

Daniela Giorgenon (UNIP, São José do Rio Preto, SP, Brasil)

Emanuelle Beserra de Oliveira (UFC, Fortaleza, CE, Brasil)

Felipe Gustavo Soares da Silva (FAST, Nazaré da Mata, PE, Brasil)

Juliana Moroni (Unesp, Marília, SP, Brasil)

Marcio Francisco Teixeira de Oliveira (UERJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil)

Marcelo Masson Maroldi (USP, São Paulo, SP, Brasil)

Pedro Rogério Sousa da Silva (UFC, Fortaleza, CE, Brasil)

Publicado: 2024-09-03

Edição completa