v. 12 n. 1 (2021)

Apesar de ainda estarmos enfrentando um momento de dificuldade, tanto do prisma político quanto do prisma ético, econômico e social, é com grande prazer e satisfação que a Inquietude lança seu mais novo volume. Nesta nova edição, temos como foco investigações relacionadas a área da lógica, porém, nela o leitor também encontrará textos relacionados a outras áreas, como a própria política.
Este volume abre com o artigo intitulado O estatuto ontológico-epistêmico das verdades eternas cartesianas onde Rafael dos Santos Ongaratto pretende investigar a tese de Descartes da criação divina das verdades eternas e como tal criação pode determinar a natureza metafísica e epistêmica de tais verdades. Além disso o autor procura fazer uma sondagem dos possíveis problemas relacionados a tal ideia e, também, propor uma interpretação epistêmica através da noção de “verdade contingente a priori”, noção esta que foi desenvolvida posteriormente por Saul Kripke para a lógica modal.
Em Entre “diferença” e “desigualdade”: A transversalidade do conceito de igualdade em Rousseau, João Pedro Andrade de Campos deseja distinguir, conforme o próprio título diz, as noções de diferença e desigualdade no pensamento de Rousseau. Tal distinção é importante para demonstrar os contrastes nos conceitos de estado de natureza e de sociedade civil. Além disso, ao realizar tal distinção, o autor se guia pela ideia de igualdade. Por fim, nota-se que através da aproximação dos homens surge a comparação e que, através das diferenças encontradas em tais comparações, surgem também as desigualdades, e que o contrato – realizado através da voz da vontade geral – tenta amenizar tais desigualdades.
Em O momento da subsunção como fatalidade, os Grundrisse (1857-58) de Karl Marx em perspectiva, Victor César Fernandes Rodrigues tenta elucidar a categoria da subsunção usando os Grundrisse, abordando o tema do trabalho e sua crítica. Através de tal análise, Rodrigues constata que o valorar a subsunção como uma categoria teórico-ontológica é de importância primordial, pois ela garante que o indivíduo, isto é, o sujeito humano, não seja reduzido a mero trabalhador. Com isso, o autor analisa que, no capitalismo, o indivíduo não trabalhador é um não-ser no sistema do ser, ou seja, do capital. Deste modo, a crítica de Marx não é sobre o trabalho em si, mas sobre o trabalho tal como assumido no capitalismo, onde os sujeitos são reduzidos a meros produtores de mercadorias.
Já em O conceito de “número real” em Frege, Caio Bismarck Silva Xavier busca definir e abordar os números reais no pensamento de Frege, mais precisamente na Parte III do Volume II de sua obra intitulada Leis básicas da aritmética, onde o filósofo alemão apresenta tanto sua crítica à definição de número real vigente em sua época quanto a sua própria definição. Tal abordagem demonstra a importância que a noção de “proporção de magnitude” desempenha em tal definição. No entanto, em seu texto, Xavier não pretende analisar a apresentação formal (com exceção de sua crítica ao formalismo) da teoria dos números reais, onde Frege apresenta em detalhes sua crítica das teorias anteriores, mas antes, ele investiga a apresentação informal, onde o filósofo apresenta a sua própria definição.
Por fim, nossa edição finaliza com o artigo intitulado Qual o conceito de analiticidade criticado por Quine em Dois dogmas do empirismo?. Ozeias F. Rodrigues pretende investigar – conforme o título sugere – a noção de analiticidade presente em algumas passagens-chave na obra Dois dogmas do empirismo do filósofo Quine. Tais passagens oferecem, nas palavras do próprio Rodrigues, modos proveitosos de ler textos filosóficos, pois através desta noção entenderemos que muitos problemas filosóficos podem ser respondidos quando se compreende o significado de determinados termos ou frases de um autor, seus contextos interno e externo (como possíveis interlocutores, etc.), e também, a leitura dos comentadores.
Apesar de estarmos nos limites do ano de 2021 e de ainda estarmos vivendo tanto em um contexto pandêmico incerto quanto em um momento onde a ciência – em especial as ciências humanas, como a Filosofia – enfrenta a falta de apoio dos nossos governantes e, principalmente, o negacionismo, estamos felizes de podermos concluir este mais novo volume, pois ele demonstra que tais obstáculos não podem calar a voz do pensamento crítico, da reflexão, da análise, em suma, do pensamento científico. Como a maioria dos artigos da presente edição possui foco na área da lógica, escolhemos uma obra intitulada Victory boogie-woogie do pintor holandês Piet Mondrian para a capa. Esperamos que a leitura de tais textos se mostre proveitosa.
A Equipe Editorial da Inquietude.
Brenner Brunetto Oliveira Silveira
Sabrina Paradizzo Senna